O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI), desembargador Sebastião Martins, reforçou que o tribunal já está em plena mobilização para as eleições gerais de 2026. Segundo ele, o planejamento logístico e operacional já vem sendo desenvolvido para garantir um pleito “limpo, seguro e transparente", apesar da transição da presidência da corte marcada para abril do próximo ano.
O desembargador reforçou que as urnas eletrônicas continuam sendo submetidas a auditorias obrigatórias por lei e resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele destacou que os testes de integridade, realizados anualmente, mais uma vez comprovaram a confiabilidade e segurança do sistema.
“O brasileiro tem que confiar na urna eletrônica. É a mais rápida, segura e transparente do mundo”, disse.
Embora a mudança da presidência do tribunal esteja próxima, o presidente apontou que o TRE-PI já iniciou a articulação de equipes técnicas e administrativas para organizar a logística eleitoral de 2026, com a mobilização de servidores, juízes eleitorais e grupos de apoio em todo o estado.
"Já temos todo o planejamento e estamos preparados com todas as equipes do TRE, de modo que possamos ter, mais uma vez, em 2026, uma eleição limpa e transparente", pontuou.
Combate à desinformação: inteligência artificial e fake News
Uma das grandes preocupações apontadas pelo presidente do TRE-PI é o combate à desinformação, um fenômeno que se intensificou com o uso de inteligência artificial (IA) e conteúdos falsos nas redes sociais. O TRE-PI seguirá apoiado em mecanismos instituídos pelo TSE, que já possui um Centro de Combate à Desinformação em Brasília e orienta Tribunais Eleitorais de todo o país a criarem núcleos especializados no tema.
"A Justiça Eleitoral tem um princípio que vigora, que é o princípio da igualdade de oportunidade. Uma notícia falsa pode desestabilizar um partido político e pode prejudicar o próprio processo eleitoral. Daí a importância de cada Tribunal Eleitoral possuir um núcleo de combate a desinformação", afirmou Sebastião Martins.

O desembargador destacou que o tribunal piauiense instituirá, em 2026, a Comissão de Propaganda Eleitoral, cujo papel será receber e processar reclamações de notícias falsas que possam afetar a igualdade de oportunidade entre candidatos, partidos e eleitores. Ele explicou que, apesar do uso democrático da IA, há riscos reais como deepfakes, que podem imitar voz ou imagem de candidatos de forma enganosa.
Além disso, grandes plataformas digitais e Big Techs — como Meta (controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp) — têm colaborado com a Justiça Eleitoral para retirar conteúdos falsos após notificação ou ordem judicial.
"Também é importante que partidos políticos e o Ministério Público fiscalizem. A Justiça Eleitoral aguarda a manifestação, do candidato, do partido ou do MP para tomar providência", ressaltou
Segurança pública e polarização política
Sobre a segurança e a estabilidade do processo eleitoral em um cenário de polarização política crescente no país, Sebastião Martins afirmou que o TRE-PI tem trabalhado em conjunto com forças de segurança pública para mitigar crises.
"As eleições municipais geralmente são mais acirradas. Houve muito pedido de forças federais no Piauí, foi o estado que mais requisitou forças federais em 2024. No próximo ano, a expectativa é de que seja bem menos, mas temos uma polarização no país e nossa preocupação é que o eleitor possa votar de forma livre, segura e consciente", pontuou.
Cassações e fiscalização do processo eleitoral no Piauí
Nos últimos quatro anos, o Piauí tem registrado diversos casos de cassações de mandatos municipais por irregularidades eleitorais, especialmente relacionadas à chamada fraude à cota de gênero, prática em que candidaturas femininas fictícias são usadas para cumprir a legislação que exige, no mínimo, 30% de candidaturas de mulheres.
"Após as eleições surgiram várias ações, sobretudo com fraude a cota de gênero. Infelizmente os partidos políticos usam as mulheres para burlar a legislação. Já tivemos vários casos onde o juiz eleitoral cassa a falsidade de cota de gênero. Nós temos vários processos tramitando, não sei precisar quantos, mas chegam em grau de recurso ações sobre fraude a cota de gênero", explicou.
De acordo com levantamento feito pela reportagem, até outubro de 2025, pelo menos 24 vereadores em diferentes municípios do Piauí tiveram seus mandatos cassados após ações por suposta fraude à cota de gênero.
Já no poder executivo, a Justiça Eleitoral da 35ª Zona de Gilbués cassou os mandatos do prefeito de Monte Alegre do Piauí, Dijalma Gomes Mascarenhas, e do vice-prefeito, Clézio Gomes da Silva, eleitos em 2024. A decisão reconheceu a prática de abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio (compra de votos). Ambos também tiveram os direitos políticos suspensos por oito anos.
Em novembro de 2022, o prefeito de São Gonçalo do Gurguéia, Paulo Lustosa Nogueira, e o vice, Geraldo Branco de Souza Neto, também tiveram os mandatos cassados pela Justiça Eleitoral. Na sentença, o juiz Antônio Oliveira, da 35ª Zona Eleitoral do Piauí, julgou procedente a denúncia de que Paulo Nogueira praticou abuso de poder político e econômico quando disputou a reeleição em 2020.
Mais recentemente, no dia 19 de dezembro deste ano, a Justiça Eleitoral cassou os diplomas do prefeito eleito de Simões, Ítalo Magno Dantas Lopes de Carvalho (PSD), e do vice-prefeito Josimar Gomes dos Reis, ao reconhecer a prática de abuso de poder político com repercussão econômica nas eleições municipais de 2024. A decisão foi proferida pelo juiz Denis Deangelis Brito Varela, da 56ª Zona Eleitoral de Simões. A decisão ainda cabe recurso.
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Fonte: Eduardo Costa/ Portal Cidade Verde
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