Ana Paula Padrão, 58, usou suas redes sociais no domingo (18) para levantar um questionamento provocador: por que tantas tendências associadas à infância estão sendo direcionadas a mulheres adultas? Em um vídeo, a jornalista abordou o fenômeno dos bebês reborn --bonecas hiper-realistas, e relacionou o tema a uma possível tentativa de regredir a autonomia feminina.
"Não tenho nada contra uma mulher adulta brincar de boneca, cada uma faz o que quiser da própria vida. O problema começa quando isso exige, por exemplo, uma vaga no SUS para atendimento psicológico da boneca. Aí já estamos falando de um desvio grave, que precisa de tratamento", afirmou Ana Paula, em tom crítico.
A apresentadora revelou que foi pesquisar mais a fundo o mercado das bonecas reborn, que tem crescido nos últimos anos e ganhado destaque nas redes sociais, especialmente com vídeos de influenciadoras cuidando das bonecas como se fossem filhos.
Para ela, o movimento revela mais do que um simples passatempo: "É uma forma sutil de nos infantilizar. Primeiro os livros de colorir, depois brinquedos retrô, agora os bebês reborn... tudo isso vem embalado como autocuidado, mas no fundo parece uma tentativa de nos manter em um estado de infância permanente."
Ana Paula também chamou atenção para um contraste que vem observando: enquanto mulheres são empurradas para hobbies nostálgicos e comportamentos passivos, grupos de homens têm se organizado em movimentos com discursos de "masculinidade restaurada".
Ela citou os chamados Legendários, que promovem encontros em montanhas e retiros onde praticam rituais e se dizem prontos para serem provedores e líderes de suas famílias.
"Não te parece estranho que, enquanto algumas de nós são levadas a cuidar de bonecas, esses grupos se posicionem como salvadores de mulheres emocionalmente instáveis, esperando por eles em casa com o café pronto?", questionou.
Ela ainda comentou que encontrou artigos assinados por homens afirmando que a popularização dos bebês reborn seria consequência direta do "fracasso do feminismo", que teria "apagado o instinto materno das mulheres reais".
Isso, para Ana Paula, é parte de uma narrativa perigosa: "Nos pintar como desequilibradas, emocionalmente frágeis e dependentes é uma maneira de nos tirar da discussão, da política, da autonomia."
Apesar das críticas, a tendência segue em alta. Celebridades como o padre Fábio de Melo, que apareceu com um bebê reborn com síndrome de Down, ajudaram a popularizar o assunto nas redes.
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Fonte: Adrielly Souza/Folhapress
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